Relato da vida do Sr. Armando Barros, um elemento da comunidade da Galiza.
"O Sr. Domingos e a D. Albertina casaram-se em Cabo Verde em 1917. O seu 1º filho, Virgílio, nasceu na povoação de S. Domingos, freguesia de S. Nicolau Tolentino, cidade da Praia. De seguida nasce o Sr. Armando Barros e mais quatro irmãos, o Cândido, a Maria da Conceição, a Maria e a Santa.
O pai do Sr. Barros era agricultor, trabalhava no seu terreno (“sítio”) de onde tirava milho, feijão, batata-doce e outros produtos agrícolas. O que tirava da terra era suficiente enquanto houve chuva, mas em 1931 houve uma “faltazita”. Normalmente a chuva começava em Julho e chovia durante três meses.
A partir de 1946 começou a seca que dura desde então o que obrigou muitos cabo-verdianos a abandonar a sua terra.
Além de cultivarem a terra, a família criava gado: porcos, galinhas, coelhos, etc.
O pai e a mãe do Sr. Barros tinham a instrução primária. O gado estava preso na manjedoura e o Sr. Barros antes de ir para a escola, apanhava palha para os animais e só então caminhava quatro km para ir estudar. As casas eram normalmente feitas de pedras e algumas pessoas rebocavam-nas. O telhado era feito de madeiras de coqueiros (barrotes). Quem tinha posses punha palha ou então telhas no telhado...
Com a seca o Sr. Barros foi com o irmão para Angola de barco, onde foram trabalhar para a Companhia de agricultura em Gabela. Porquê? Porque Angola precisava de mão de obra e os cabo-verdianos tinham fama de serem muito trabalhadores pois tinham que aproveitar os três meses de chuva para nas suas terras tirarem o máximo de produtos!»
Nota- O Sr. Barros, recentemente falecido, era pai da Paula, da Mafalda, do Rolando e do Beto, miúdos que em 1987 frequentavam o ATL da Galiza.
Este testemunho dado há muitos anos pela sua esposa é uma homenagem a uma família angolana que, apesar de todas as dificuldades vividas tentou sempre, e com toda a dignidade possível, ser um modelo de família na nossa comunidade.
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